CATÓLICOS do OESTE | “Estive preso e fostes ter comigo”

catolicos-do-oeste-e1480525558952A Igreja, desde o seu início, sentiu a necessidade de visitar os presos, não só porque na prisão tinha alguns dos seus mais decididos membros, apenas pelo facto de professarem uma fé inovadora para o contexto pagão, mas também por sentir que os cristãos deverem estar junto daqueles que se sentem mais marginalizados e necessitados de ajuda.
As prisões são lugares complexos com pessoas geralmente com grandes e graves feridas, marcadas pela culpa, pela vergonha, revoltadas e entregues a uma solidão que não ajuda a uma reinserção positiva na sociedade. A cadeia é como a “desembocadura de um longo rio social”, alimentado por fontes e afluentes que, por razão do seu maior ou menor caudal humano, não podem ser alheios e indiferentes à Pastoral Penitenciária, que é uma Pastoral profundamente humana.
Existindo, em Caldas da Rainha, um Estabelecimento Prisional, a comunidade católica local não podia ficar indiferente aos que ali vivem e procura, através dos seus párocos e visitadores, levar aos homens, privados de liberdade, uma palavra de esperança e serenidade, garantindo-lhes que Deus ama a todos e que nunca é tarde para recomeçar.
A reinserção social ou inserção dos reclusos na sociedade é outra das grandes preocupações. Nem sempre é fácil a reintegração dos ex-reclusos, porque a sociedade, muitas vezes, já lhes colocou um rótulo e, é preciso dizê-lo, muitos deles nunca estiveram inseridos na sociedade. O restabelecimento interior da pessoa e a sua preparação para a vivência na comunidade, devem ocorrer já no meio prisional. No recente jubileu dos reclusos, realizado em Roma, no início do mês de novembro, o Papa Francisco sustentou uma mudança de visão na justiça penal, para que esta não seja “exclusivamente punitiva” mas “aberta à esperança e à perspetiva de reinserir o réu na sociedade”. O sistema prisional e a sociedade em geral têm a responsabilidade conjunta de contribuir para a reabilitação e reinserção social dos reclusos, desempenhando, aqui, a assistência religiosa um papel essencial e imprescindível: “Estive preso e fostes ter comigo” (Mt 25,36)
Além da parte espiritual, tentamos também apoiar os reclusos em vestuário, artigos de higiene pessoal, objetos religiosos e outros bens que se justifique fornecer. Aqui contamos sempre com a ajuda de outros cidadãos e empresas que connosco colaboram. É gratificante verificar que, num mundo tantas vezes alheio ao que o rodeia, as palavras solidariedade e compreensão ainda fazem sentido para muitas pessoas, como pudemos testemunhar na resposta às nossas solicitações recentes de apoio para a ceia de natal dos reclusos e outras atividades a realizar ao longo do ano. Deixamos, aqui, os nossos mais sinceros agradecimentos a todos os que, neste tempo de Natal, disseram “presente” ao desafio de colaboração, por nós lançado.
Toda a ação pastoral penitenciária tem subjacente a confiança no ser humano, em toda a sua potencialidade e na sua capacidade de regeneração. Queremos respeitar, sem exceção alguma, essa dignidade da pessoa, não a confundindo com as ações praticadas. Uma sociedade verdadeiramente humana há-de ter esperança em que todos possam chegar a ser Pessoas; onde todos devem ser tratados como “recuperáveis”, mesmo aqueles que cometeram crimes, independentemente do seu grau e das circunstâncias em que ocorreram.

Fernando Alves
Grupo de Visitadores Católicos
paroquiacaldasdarainha@gmail.com
Artigo de opinião publicado na Gazeta das Caldas na edição nº5152
Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2016
Ligação: http://gazetacaldas.com/opiniao/catolicos-do-oeste-estive-preso-fostes-ter-comigo/