Programa Pastoral 2017-2020
Recepção da Constituição Sinodal de Lisboa
O nosso caminho sinodal faz-se em correspondência directa à exortação apostólica Evangelii Gaudium do Papa Francisco. É o nosso plano e programa essencial, como ele mesmo elucidou: «… sublinho que aquilo que pretendo deixar expresso aqui, possui um significado programático e tem consequências importantes. Espero que todas as comunidades se esforcem por usar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária que não pode deixar as coisas como estão.» (EG, 25)
Assim sendo – e sinodalmente também – apuraram-se nos últimos meses alguns objectivos concretos para o triénio. Um objectivo transversal, como vem enunciado no nº 60 da Constituição Sinodal de Lisboa (CSL): «Fazer da Igreja uma rede de relações fraternas». E três objectivos anuais e sucessivos: «Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce a fé» (CSL, 38), para 2017-2018; «Viver a liturgia como lugar de encontro» (CSL, 47), para 2018-2019; «Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias» (CSL, 53), para 2019-2020. Certamente, tudo o que a CSL oferece nos seus setenta números é para receber e praticar. Mas estes números, maioritariamente escolhidos pelas vigararias e outros grupos, serão ponto de partida para tudo o mais.
Sendo a realidade diocesana muito diversificada – entre paróquias mais urbanas ou mais rurais, entre institutos religiosos e seculares, capelanias e instituições caritativas, entre colégios, escolas e universidades, entre associações, movimentos e grupos – não parece viável nem desejável uma programação muito detalhada e uniforme. Aliás, somam-se felizmente iniciativas locais e vicariais, bem como as que de Roma nos têm chegado e continuarão a chegar, ou do conjunto das dioceses portuguesas. Tudo isto requer, ao nível diocesano, uma apresentação módica e flexível de sugestões programáticas para a recepção da CSL, que sejam depois aplicadas conforme a criatividade de cada uma das realidades pastorais do Patriarcado.
O número 60 da CSL, objectivo transversal do triénio, enuncia-se assim: «Fazer da Igreja uma rede de relações fraternas». Tendo como fonte e modelo a própria Santíssima Trindade, cada comunidade, da família à paróquia ou qualquer outra agregação eclesial, terá de ser isso mesmo, ou nada poderá realmente anunciar. O «vede como eles se amam», que tanto admirava os pagãos dos primeiros séculos, tem de constituir hoje o estímulo e o desafio da nossa convivência crente e missionária.
Este número da CSL detalha depois alguns pontos: 1) «Fomentar a comunhão entre grupos, movimentos e obras da mesma paróquia», o que exige dos pastores que sejam realmente “tudo para todos” e obreiros constantes de comunhão, incentivando os fiéis no mesmo sentido. 2) «Transformar os espaços eclesiais habituais, tornando-os mais fraternos e acolhedores», o que requer prioritariamente uma grande vontade de acolher e integrar, que só ela justificará possíveis obras materiais. 3) «Partilhar os recursos pastorais com paróquias próximas e dinamizar uma pastoral de conjunto, evitando dispersão de recursos e energias», o que se refere directamente ao trabalho vicarial e às “unidades pastorais”, que não significam várias paróquias para o mesmo pároco, mas trabalho conjunto dos agentes pastorais dessas paróquias, da catequese à liturgia, da caridade à missão. 4) «Colaboração entre os diversos ministérios e instâncias eclesiais, motivando e incrementando o trabalho em equipa», o que se prende directamente com o nº 70 da CSL, cuja 7ª opção temos de levar por diante com mais quantidade e qualidade, designadamente nos conselhos pastorais e económicos, paróquia a paróquia. 5) «Acompanhar dinamismos de cooperação entre diversos organismos e grupos eclesiais», que, provindos de dentro ou de fora da diocese, nesta se “localizam” e convergem e hão de ser acolhidos com discernimento, gratidão e apoio. 6) «Propor de novo o Evangelho e a sociabilidade em que ele nos introduz » aos nossos contemporâneos, que realmente os esperam e decerto aderirão ao que, também da nossa parte, for autenticamente evangélico e gerador de comunhão.
O número 38 da CSL, objectivo anual de 2017-2018, enuncia-se assim: «Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce a fé». Objectivo directamente inspirado nos números 174 e 175 da Evangelii Gaudium que por sua vez referem a exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, de Bento XVI, que importa reler e aplicar.
O número 38 da CSL detalha também alguns pontos, todos eles programáticos: 1) «Promova-se a leitura orante da Escritura e a formação bíblica», para o que podemos seguir o itinerário de lectio divina da Verbum Domini, 87, e aproveitar melhor o que a Faculdade de Teologia, o Instituto Diocesano da Formação Cristã e outras iniciativas repetidamente nos oferecem. 2) «A sua presença em todos os momentos da evangelização», não como mera alusão ou complemento, mas como verdadeiro fundamento e inspiração de tudo o mais, em qualquer reunião e oração litúrgica, para-litúrgica, familiar ou de grupo. 3) «O seu papel fundamental nos processos de conversão e de crescimento na fé e de discernimento das motivações para seguir Jesus», que hão de coincidir essencialmente com os episódios biblicamente transmitidos e assim mesmo se autenticam. 4) Igualmente «o seu lugar estruturante na definição dos itinerários catequéticos». 5) «Merece especial destaque a homilia, baseada nos trechos proclamados e na tradição viva da Igreja».
Sabendo nós que cada um dos números da CSL condensa a reflexão de muitos diocesanos de Lisboa, daremos agora à sua recepção e cumprimento o melhor da nossa dedicação pastoral. Assim continuaremos o Sínodo, certos de que, em Igreja e com a Igreja, nunca correremos em vão (cf. Gl 2, 1-2).
Lisboa, 29 de Junho de 2017
+ Manuel, Cardeal-Patriarca
Sugestões Programáticas para o Ano Pastoral 2017-2018
Além do que é apresentado na CSL (cf. introdução) acrescentam-se as seguintes sugestões, provindas de várias instâncias diocesanas:
Relativo ao nº 60: Fazer da Igreja uma rede de relações fraternas
a) Edificar comunidades mais integradoras de pessoas e grupos, autênticas “famílias de famílias”, espaços de comunhão, na mútua estima e no trabalho conjunto.
b) Reforçar as diferentes instâncias de corresponsabilidade, como os Conselhos Pastorais e Económicos Paroquiais e a coordenação pastoral vicarial.
Relativo ao nº 38: Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce a fé
1. Centralidade da Palavra
a) Reforçar a importância da Palavra de Deus para o brotar da fé e da vida orante, nomeadamente através da Lectio Divina, Liturgia das Horas e oração salmódica, bem como em tempos de retiro espiritual.
b) Criar/consolidar grupos que releiam a vida pessoal e comunitária à luz da Palavra de Deus.
c) Procurar que a Palavra de Deus presida aos vários momentos na vida comunitária e familiar.
2. Conhecimento da Palavra
a) Promover a formação bíblica, começando por valorizar e divulgar as iniciativas já existentes.
b) Cuidar da formação de todos os ministros da Palavra, para que ecoem correctamente o que antes receberam.
c) Divulgar a Exortação Apostólica Verbum Domini, na sua parte doutrinal e nas sugestões práticas.
3. Transmissão da Palavra
a) Dar relevo comunitário ao serviço da Palavra e respectivos agentes (leitores, salmistas, catequistas…).
b) Procurar que a Palavra de Deus chegue a todos, utilizando também as tecnologias de informação e comunicação.
c) Garantir as condições técnicas de proclamação e audição da palavra nas celebrações ou nos espaços de celebração.
d) Colocar as boas práticas da comunicação ao serviço da Nova Evangelização, revitalizando também formas tradicionais e as “missões populares”.
e) Dar todo o relevo ao anúncio da Palavra de Deus nos sacramentos e sacramentais, com forte incidência existencial nas diversas situações.
4. Domingo da Palavra
«Seria conveniente que cada comunidade pudesse, num domingo do Ano Litúrgico, renovar o compromisso em prol da difusão, conhecimento e aprofundamento da Sagrada Escritura: um domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, para compreender a riqueza inesgotável que provém daquele diálogo constante de Deus com o seu povo. Não há de faltar a criatividade para enriquecer o momento com iniciativas que estimulem os crentes a ser instrumentos vivos de transmissão da Palavra.» (Misericordia et misera, 7).
Na Diocese destinaremos o Domingo, dia 29 de Outubro, a esta finalidade. Esse Domingo poderá ser precedido por uma semana dedicada à Palavra de Deus.
O Programa e Calendário Diocesano 2017/2018 pode ser descarregado aqui.