CATÓLICOS do OESTE | Nossa Senhora do Pópulo I

catolicos-do-oeste-e1480525558952Este quadro foi pintado por Josefa d’Ayalla. A pintora d’Óbidos retrata a Senhora do Pópulo. Esta tela é pouco comentada pelos historiadores de arte, porém é de uma beleza e de um significado teológico profundo, como é característico das obras de cariz cristão da pintora. Podemos encontrá-la no Museu do Hospital em Caldas da Rainha. Não se sabe ao certo quem a adquiriu, já que não consta dos livros de despesas do Hospital Termal. Poderá ter sido uma oferta de algum aquista abastado, ou mesmo de Josefa, que aqui se deslocou variadíssimas vezes “a banhos”.
Josefa é intemporal. Com raízes espanholas, mas com alma lusitana, que chega aos nossos dias com a mesma frescura e capacidade de atrair olhares e emoções como se não houvesse tempo. Nos seus quadros, de cunho espiritual, revela-nos a forte personalidade, marcada pela influência da mística de Santa Teresa d’Ávila.
Mulher ímpar. Os pais consentem na sua emancipação o que lhe permite manter-se solteira, dedicando-se totalmente à arte. A 13 de Junho 1684 faz o seu testamento, onde, curiosamente pode ler-se que deixa a sua herança “às fêmeas da família” e à Ordem das Carmelitas. Morre poucos dias depois.
A Ordem Carmelita foi difundida na Península Ibérica por Santa Teresa, cuja espiritualidade e santa-maria-popoloousadia tanto inspirou Josefa, quase um século depois, mergulhada no Barroco “tenebroso” dum Portugal seiscentista, muito pobre e decadente, acabado de sair do domínio Filipino.
É deste Portugal dramático e escuro que Josefa irradia, cheia de cores e luz, plena da irreverência que a distingue do panorama artístico. Podemos dizer que a gramática cromática usada por Josefa, bem como o olhar nascido da fé, foram capazes de produzir telas com uma beleza pedagógica, capaz de introduzir no Espírito Teresiano e na plenitude do Amor.
É certo que as obras mais conhecidas de Josefa d’Óbidos são as suas naturezas mortas, definidas como “xaroposas”, próprias duma mulher barroca. Mas, quem olha e se adentra nos seus quadros de inspiração teresiana percebe a densidade de alguém que desnuda a alma seduzida pelo Belo como expressão máxima do Bem que é Deus.
No Livro dos Génesis, o estribilho que marca a conclusão de cada dia criado é “Deus viu que era bom”, contudo o texto em hebraico diz: “Deus viu que era Belo”. O Belo como a imagem de Deus que se reflete na criação do mundo.
Esta obra espelha o Belo que nos introduz na vivência das Bem-aventuranças desejadas para as Caldas pela nossa Leonor.
Convido-vos a irem ao Museu do Hospital, a deixarem-se seduzir pela mensagem desta Senhora do Pópulo. Na próxima edição poderemos fazer, em conjunto, uma leitura teológica deste tesouro da nossa cidade.

Margarida Varela
Catequese de Adultos
paroquiacaldasdarainha@gmail.com
Artigo de opinião publicado na Gazeta das Caldas na edição nº5241
Sexta-feira, 31 de Agosto de 2018
Fonte: https://gazetacaldas.com/opiniao/nossa-senhora-do-populo-i/