Lisboa, 12 jun 2020 (Ecclesia) – O Patriarcado de Lisboa informa que faleceu hoje o cónego Luís Manuel Pereira da Silva, pároco da Sé de Lisboa desde 1996 e especialista em Liturgia, “devido a doença oncológica”.
“O corpo do sacerdote chegará domingo, pelas 13h30, à Sé de Lisboa, onde, pelas 15h30, o Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, vai presidir à Missa exequial. Às 21h30, decorrerá uma Vigília, orientada pelo Seminário dos Olivais. Na segunda-feira, às 9h30, no mesmo local, a missa será presidida pelo Bispo Auxiliar de Lisboa D. Américo Aguiar. De seguida, o corpo do cónego Luís Manuel seguirá para a terra natal dos pais, onde será sepultado”, indica um comunicado enviado à Agência ECCLESIA.
O patriarcado de Lisboa lembra que a participação nas celebrações exequiais, na Sé, “está limitada ao número de lugares disponíveis, de acordo com as orientações das autoridades de saúde”, mas as celebrações vão ser transmitidas online e em direto a partir do site e redes sociais do Patriarcado de Lisboa (Facebook e Youtube) e do MeoKanal (210021).
Nascido a 2 de setembro de 1956, em São José, no centro da cidade de Lisboa, e ordenado a 28 de novembro de 1993, nos Jerónimos, pelo cardeal Ribeiro, este sacerdote era diretor do Departamento de Liturgia do Patriarcado, colaborador do Secretariado Nacional de Liturgia e professor na Universidade Católica Portuguesa.
Mestre das Cerimónias Patriarcais, desde 1998, Luís Manuel Pereira da Silva foi criado cónego do Cabido da Sé em 8 de dezembro de 2003, era professor de Liturgia na Universidade Católica Portuguesa e assistente da Associação de Professores Católicos.
Em 2018, o cónego Luís Manuel Pereira da Silva celebrou 25 anos de ordenação sacerdotal, e afirmou ao jornal jornal Voz da Verdade, do Patriarcado de Lisboa, a “profunda gratidão” pela vocação e o trabalho pastoral, nomeadamente na Paróquia da Sé de Lisboa, que colocou à disposição do cardeal-patriarca por causa dos problemas oncológicos que vivia, acrescentando que recebeu sempre “grande alento” por parte de D. Manuel Clemente.
PR
Notícia atualizada a 13.06.2020
“Deus não desiste de mim”(Jornal Voz da Verdade, 25 de novembro de 2018) Pároco da Sé de Lisboa desde 1996, o cónego Luís Manuel foi ordenado há 25 anos e tem dedicado a vida também à liturgia. Foi professor, mas Deus falou mais alto e, hoje, sente-se agradecido por ter arriscado entrar no seminário. “Uma profunda gratidão a Deus”. Foi este o sentimento do cónego Luís Manuel no dia da sua ordenação sacerdotal, a 28 de novembro de 1993. Foi há 25 anos. “Tinha o desejo enorme, apesar das minhas fragilidades, de O amar e servir na Igreja”, recorda o sacerdote, ao Jornal VOZ DA VERDADE. A Sé de Lisboa é a única paróquia que conheceu enquanto pároco. O seu nome está também intimamente ligado à liturgia. “Lembro-me que no meu retiro de ordenação, o padre que pregou nos dizia, de uma maneira muito simples: ‘Para onde o Bispo vos mandar, fazei disso a vossa China’. Isto é, fazer do lugar onde o Bispo nos coloca o lugar onde temos que dar o nosso melhor, evangelizar, caminhar, dar a vida. Eu nunca me esqueci disso, por isso nunca pedi para mudar. Pedi, sim, nesta fase da minha doença. Por três vezes disse ao senhor Patriarca que tinha o lugar à disposição, que ele decidisse o que fosse melhor para a Igreja e para a diocese. O senhor Patriarca foi sempre de um grande alento. Recordo a determinação com que, no primeiro dia, me disse: ‘Não! Tu vais curar-te. Portanto, ficas onde estás e alguém te há-de ajudar’. Fiquei impressionado e tem sido, de facto, um alento”, partilha o cónego Luís Manuel. Pelo exemplo Nascido numa paróquia da cidade de Lisboa, este sacerdote é o irmão do meio de três filhos. “Nasci numa família cristã, com prática dominical, e fui criado na freguesia de São José, no centro de Lisboa, na Avenida da Liberdade. Na paróquia, fiz todos os sacramentos da iniciação cristã e frequentei a catequese, como era normal”, lembra. Desde pequeno, confessa, “a ideia da vocação pairava”. “Até, por vezes, fazia brincadeiras de celebrar a Missa ou fazer a casula com jornais. Aquelas coisas de miúdo…”, conta, destacando a figura e importância do seu pároco, cónego Joaquim Saraiva Abrantes. “Esses desejos deviam-se à figura do meu prior, que teve um papel muito importante mais pelo exemplo do que por palavras. O meu prior falou muitas vezes de vocação, mas não era uma pessoa nada insistente. Pelo contrário, o seu exemplo, o seu modo de vida, a sua forma de amar a Igreja, de servir a Igreja, foi sempre muito interpelante para mim”, assume. Quando terminou a então 4ª classe, com cerca de 10 anos, o pequeno Luís Manuel disse que queria ir para o seminário e o pároco “encaminhou as coisas”. Foi para o Seminário de Santarém, onde esteve três anos. “Foi naquela fase entre 1967 e 1969, em que os seminários menores estavam a fechar. Foi no pós-Concílio, em que se considerava que haveria outras formas de pastoral vocacional, e assim foi, eu saí no terceiro ano, tinha 13 anos, e o próprio seminário fechou, um ou dois anos depois”. Regressou a Lisboa e… a casa. “Fiz os meus liceus, andei no Passos Manuel um ano, depois fui para o Liceu Camões. Comecei a dar catequese, com 14-15 anos, mas durante uns anos a questão vocacional esteve um pouco adormecida”, manifesta.
‘Se Deus quiser, tu és padre’ Com 17-18 anos, a questão vocacional “vinha sempre, como hipótese”. “Sentia que Deus me tocava. E tocava principalmente pelo anúncio do Evangelho e pela liturgia. As celebrações eram momentos altos, em que eu me sentia mesmo interpelado”, refere. Quando estava a fazer a Filosofia, deu aulas de Moral na escola primária onde andou, na freguesia de São José, a convite do pároco. Terminado o curso, em 1982, começou a lecionação nos liceus, primeiro em Loures, depois em Lisboa, na antiga Escola Machado de Castro. Nessa altura, quando se estava a aproximar da casa dos 30 anos, as questões vocacionais começaram a acentuar-se bastante. “Os fins dos anos letivos eram sempre períodos de grande tensão interior, porque achava que devia dar um passo, mas tinha receio. Eu emagrecia, vivia numa grande tensão, e procurava falar um pouco com o meu prior, que Deus Nosso Senhor já chamou a si e de quem tenho bastantes, muitíssimas, saudades”, recorda. Nesta fase, o futuro sacerdote foi “muito ajudado” pelo padre José Craveiro, da Companhia de Jesus, que vivia em Coimbra. “Regressava dos encontros sempre com uma paz interior e uma alegria de que era possível, que Deus me chamava. Eu expunha coisas muito simples, da vida, do medo da solidão, o medo de não ser capaz, o medo de ser alguém que depois não servia a Igreja, ou que servia mal, e o padre Zé Craveiro dava-me sempre muita segurança, muita paz, muita confiança, dizendo-me sempre esta verdade que depois, em mim, foi crescendo: ‘Se Deus quiser, tu és padre’”. A 13 de maio de 1989, após nova conversa com o jesuíta, a decisão. Tinha então 32 anos. “Aí tomei consciência que tinha mesmo de avançar, quanto mais não seja para tirar a limpo, para acabar com os receios e medos que tinha. O mínimo que podia fazer por mim era entrar no seminário, experimentar e depois o tempo, a vida de seminário e os superiores iriam ajudar-me a discernir”, frisa.
Abrir horizontes em Roma O contacto com o Seminário dos Olivais, em julho desse ano, foi feito através do então vice-reitor, cónego Carlos Paes, hoje pároco de São João de Deus. “Saí do encontro com a mesma sensação de paz, dessa interioridade”, lembra. No dia seguinte, contou à família. “Apareci sem dizer nada e, à refeição, disse que tinha pedido para entrar no seminário. Os meus pais ficaram calados, porque já esperavam qualquer coisa, a minha irmã mais nova, que é mais impulsiva, disse: ‘Agora, Luís?’. O meu cunhado, seu marido, disse uma coisa que nunca esqueci: ‘O teu irmão vai para onde for feliz e é aí que nós estamos, com ele’”, recorda, emocionado. A entrada no seminário deu-se a 1 de outubro de 1989. “Foi um tempo muito feliz, de formação intelectual, humana, espiritual e, ao mesmo tempo, o exemplo dos meus superiores, que foi marcante, nesse amor à Igreja e na dimensão e forma de viver o sacerdócio como padre diocesano”, aponta, lembrando que manteve “a lecionação de Filosofia ao mesmo tempo que estava no seminário e a fazer o curso de Teologia”. No final do curso, em junho de 1992, o então Cardeal-Patriarca, D. António Ribeiro, propôs que fosse estudar Liturgia para Roma. Durante o verão não teve férias, mas terminou a tese e, em outubro, já estava em Roma. “Foram anos de muita felicidade, de gratíssima felicidade, tendo em conta que foram anos de estudo. Roma abre os horizontes, mesmo ao nível do estudo, e tem bibliotecas ótimas. Foram quatro anos, fiz a licenciatura em Liturgia e todo o programa letivo do doutoramento. A partir do segundo ano em Roma, iniciei também o diploma de Patrologia, de conhecimento da vida e obra dos padres da Igreja”, conta.
Anos “muito felizes” na Sé Em dezembro de 1995, no último ano em Roma, D. António Ribeiro revela ao então padre Luís Manuel que o estava a pensar nomear para a Sé de Lisboa, em substituição do cónego Teodoro Marques da Silva. No ano seguinte, acontece o regresso a Lisboa e a confirmação da nomeação. “Aqui estou, na Sé, há 23 anos, como pároco da Catedral. Têm sido anos muito felizes”, assegura o cónego Luís Manuel, agradecendo a Deus a sua vida: “Um dos textos que marcou a minha caminhada para o seminário, e que escolhi para o convite da ordenação de diácono, é Isaías 43: ‘Escuta Israel, tu és meu. Por ti, darei reinos, por ti, farei tudo, porque te amo, porque te quero, porque és precioso aos meus olhos’. Nos momentos de mais abatimento, mesmo nesta última fase da minha vida, com a doença, todos os dias recordo este texto. É essa certeza que Deus me ama, com aquilo que eu sou, com as minhas limitações, com as minhas virtudes. Deus não desiste de mim, como não desiste de ninguém. Isso é o alento para a gente vencer todas as coisas, no bom sentido. Não é para ficar por cima, mas para vencer, mesmo as contrariedades, as dificuldades e o que é mau, a gente saber tirar daí o bom e tudo isso ofertar a Deus, e tudo isso perceber que é essa a história de amor que Deus escreve com cada um de nós, que é a história da salvação”.
Perfil O cónego Luís Manuel é pároco de Santa Maria Maior da Sé Patriarcal há 22 anos. Nascido a 2 de setembro de 1956, em São José, uma freguesia no centro da cidade de Lisboa, foi ordenado a 28 de novembro de 1993, nos Jerónimos, pelo Cardeal Ribeiro, e celebra, por estes dias, os 25 anos da ordenação. Mestre das Cerimónias Patriarcais desde 1998, este sacerdote é diretor do Departamento de Liturgia do Patriarcado desde 2001 e foi criado cónego dois anos depois, em 2003.
Sé de Lisboa: paróquia, Catedral e monumento nacional Pároco da Sé desde 1996, o cónego Luís Manuel salienta que esta igreja da cidade de Lisboa “tem três instâncias: ser paróquia, ser a Catedral, portanto a igreja do Bispo, e, ao mesmo tempo, ser monumento nacional”. Quanto à paróquia, o sacerdote frisa ser “uma comunidade pequena – no último Censo antes da unificação das freguesias da Baixa, a Paróquia da Sé já não tinha sequer 1000 eleitores –”, e “a maioria idosos ou pessoas de meia-idade”, mas que “faz tudo o que as outras paróquias fazem”. “Tenho procurado manter a comunidade. Fazemos tudo o que os outros fazem, temos a catequese, temos coros, temos formações. Claro que juntamos é tudo, porque reunindo todos os grupos e formações temos cerca de 40 a 50 pessoas. Os retiros são para todos, as formações são para todos e assim vamos caminhando e mantendo a comunidade cristã, celebrando”, salienta, sublinhando ser “uma paróquia com características próprias, metida no meio da cidade, numa zona envelhecida, mas que vai mantendo a chama”. Sobre a Sé como Catedral, o cónego Luís Manuel destaca: “Como igreja do Bispo, temos todo um outro ritmo, que são os pontificais, o perceber que é a Catedral, o que implica toda uma presença e um outro tipo de trabalho que também surge ciclicamente. Recebemos grupos que vêm para celebrar, recebemos Bispos que vêm com uma peregrinação”. Sendo a Sé Patriarcal de Lisboa um monumento nacional “com uma certa implantação da cidade”, isso obriga o pároco a “receber grupos oficiais”, e “uma vez ou outra a receber as esposas de primeiros-ministros ou de presidentes, quando estão de visita a Portugal e normalmente têm um programa paralelo ao do marido e passam pela Sé”. “Há todo um trabalho que implica, ocupa e requer de nós uma atenção e um cuidado bastante grande”, aponta o cónego Luís Manuel.
“Estou a ver este ano pastoral com muita esperança” Além da Paróquia da Sé, a vida sacerdotal do cónego Luís Manuel tem sido dedicada ao Departamento de Liturgia do Patriarcado de Lisboa. “Estou a ver este ano pastoral dedicado à liturgia com muita esperança”, refere o sacerdote, destacando a importância dos encontros de liturgia que estão a decorrer pela diocese. “A pedido do senhor Patriarca, foi preparada uma formação básica sobre liturgia, que consta de cinco encontros que se repetem em todas as vigararias do Patriarcado. Começámos no dia 1 outubro, na Vigararia de Alcobaça, e temos tido uma grande adesão. Há vigararias onde estiveram 450 pessoas, outras 320-340, a média andará nas 200, com tendência para aumentar”, revela, garantindo que “as pessoas estão ávidas de saber e de perceber o que é a celebração, como fazer bem e aprofundar o mistério”. “Tenho constatado aquilo que era uma intuição minha, e que vi confirmado em vários liturgistas internacionais: a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, ao nível material, já está feita. O último livro a ser editado foi o Martirológio, de resto, os pontificais, o missal, os lecionários, os rituais, tudo foi publicado. Portanto, a primeira fase de aplicação, nos anos 80 e 90, foi um pouco o fazer, o saber fazer, o explicar como, porque houve alguma mudança nalguns ritos e há toda uma postura da tradição que é preciso assumir e que é preciso dar continuidade. Agora estamos noutra fase, que é aprofundar a espiritualidade que brota dessa reforma. É preciso viver o âmago do mistério que celebramos, o que é cada rito, o que é cada oração, o que é cada gesto, o que é que cada atitude corporal significa e porquê, e como nos ajudam a fazer essa comunhão com Deus na oração e na liturgia”, salienta, sublinhando que “os encontros de formação litúrgica têm ajudado nesta perceção”. |