CATÓLICOS do OESTE – Deus é político?

O Papa Francisco, na sua exortação “A Alegria do Evangelho” diz que “A terra é a nossa casa comum, e todos somos irmãos. Embora «a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central da política», a Igreja «não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça». Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocuparem-se com a construção dum mundo melhor.”
O Santo Padre de uma forma muito frontal faz afirmações que nos colocam na verdade e nos permitem meditar sobre o mundo que nos rodeia e ao qual muitas vezes passamos indiferentes, porque não pensamos a partir do coração do próximo.
As eleições Autárquicas são um momento para reflectirmos e para exercermos o nosso direito de escolha, o Papa diz que o envolvimento dos cristãos na política é uma obrigação: “Os cristãos não podem fazer como Pilatos e lavar as mãos, temos de nos meter na política, porque a política é uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum.”
Questiona, ainda, Francisco: “A política está muito suja, mas eu pergunto: «está suja porquê?» – Porque os cristãos não se meteram nela com espírito evangélico? – É fácil dizer que a culpa é dos outros… Mas eu, o que faço? – Isto é um dever! Trabalhar para o bem comum é um dever cristão!”
O termo “política” deriva do grego, indica todos os procedimentos relativos à polis (cidade), ou à sociedade, por isso o cristão, embora não seja do mundo e tenha como Pátria a Jerusalém Celeste, vive no mundo como veículo do amor de Deus, não podendo ficar ausente da responsabilidade social que lhe é intrínseca.
Na tradição cristã, o amor ao próximo e o amor a Deus são uma só virtude teologal: é o amor, dom que vem de Deus, que pelo consentimento do nosso coração, se prolonga para o próximo. “E quem é o meu próximo?” pergunta, o Dr. da Lei a Jesus, que lhe responde com a parábola do Bom Samaritano. Nela há um homem caído no chão, que todos ignoram e que apenas o transeunte mais improvável, o samaritano, se dispõe a ajudar. Todos somos chamados a sermos este homem que tem a coragem de ajudar um desconhecido, porque temos inscrito em nós o amor de Deus, ser o samaritano corajoso que integra na sua vida gratuitamente alguém que precisa de ajuda.
Todos desejamos ser veículos do amor de Deus no mundo, contudo, a lógica do medo, do comodismo, duma sociedade mais virada para o ter do que para o fazer, não nos permite estar de coração aberto ao serviço.
O “amor político”, diz o Papa, é uma forma do amor cristão, porque a santidade não se pratica num vazio social. “Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num diálogo autêntico que vise efectivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do mundo… a política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”.
De facto, explica que a caridade: “é o princípio não só das micro relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro relações como relacionamentos sociais, económicos e políticos”.
Oração assumida pelo Papa Francisco, como proposta aos políticos, nestes termos: “E porque não recorrerem a Deus pedindo-lhe que inspire os seus planos? Estou convencido de que, a partir de uma abertura à transcendência, poder-se-ia formar uma nova mentalidade política e económica que ajudaria a superar a dicotomia absoluta entre a economia e o bem comum social. Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que levem verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres”.
Como cristãos, somos, ao mesmo tempo filhos e pais da história, onde temos a responsabilidade de sermos portadores da fé, da esperança e da caridade.

Margarida Varela
paroquiacaldasdarainha@gmail.com
Artigo de opinião publicado na Gazeta das Caldas na edição nº5188
Sexta-feira, 25 de Agosto de 2017
Ligação: https://gazetacaldas.com/opiniao/catolicos-do-oeste-deus-politico/