CATÓLICOS do OESTE | Missão Esperança com a D. Piedade

catolicos-do-oeste-e1480525558952A D. Piedade é uma jovem senhora de 84 anos que vive desde sempre nas Anchas (ao lado de Castanheira de Pera) e sempre foi uma mulher do campo. O seu marido faleceu faz 7 anos e vive apenas com o seu filho que trabalha numa fábrica de gesso.
Na altura dos incêndios, a D. Piedade não tinha como se proteger daquelas labaredas e fugiu de casa com o filho e com as 8 ovelhas para o centro da vila de Castanheira sem mais nada no corpo. Quando voltou a casa, sentiu-se aliviada porque a casa ainda lá estava, inteira, mas os terrenos onde pastava as ovelhas tinham ficado em cinza. Com a dificuldade em alimentar o gado, a Médicos do Mundo ajudou na alimentação pois recebeu muitos donativos de todo o país. Como faz parte da Missão Esperança semear novos campos e ajudar na reabilitação da vila, foi dado início à limpeza e renovação de um terreno da D. Piedade que não tinha sido alcançado pelos fogos.
Durantes os restantes dias tivemos a possibilidade de trabalhar nesse terreno e ajudar na alimentação do gado.
Estivemos nas instalações centrais da Missão Esperança, na Praça da Notabilidade e todo o trabalho de organização dos bens doados é feito por voluntários da Médicos do Mundo.
Após os incêndios muitas pessoas da terra ligaram-se a este projecto e querem fazer renascer Castanheira.
Tivemos a possibilidade de conhecer um grupo de professores da Escola Superior Agrária de Santarém que vai todas as semanas a Castanheira de Pera trabalhar na horta social que desenvolveram para a população. O interior da vila de Castanheira de Pera não foi afectado pelos incêndios, mas a periferia foi e todos os caminhos em volta estão completamente pretos. Os 2,5 Km que separam a vila do estaleiro da Câmara, estão escuros, estão pesados. Parece que percorremos um corredor sem fim, sem luz à nossa frente. Como humanos que somos, isto magoa a nossa alma, a nossa intimidade, ver toda a destruição envolvente e saber que ali, naquele local faleceram pessoas é algo que nos obrigou a reflectir bastante, pois isto não pode ser esquecido.
Todos os dias quando saímos do terreno da D. Piedade no final da tarde, ouvimos as suas palavras “Até amanhã meus meninos se Deus quiser, tenham uma noite feliz.” Ouvir estas simples palavras todos os dias, enchiam o coração de cada um de nós, era um incentivo para continuar o trabalho que estávamos a fazer e perceber que um simples gesto podia mudar o dia e a semana de cada um.
A nossa semana tinha assim chegado ao fim. Todo o nosso trabalho já estava completo e começámos a preparar já a próxima visita para voltar. Foi um prazer enorme trabalhar e termos tido a oportunidade de cruzar a nossa vida com a vida da D. Piedade. Como Caminheiros, revigorados por algumas palavras que dão luz ao nosso dia.
As escolhas, a definição de objetivos pessoais e a idealização que o Caminheiro quer alcançar na sua vida, permitem assim olhar para o futuro com confiança e capacidade de caminhar no rumo do Homem-Novo.
Participar em acções como esta da Missão Esperança, é uma escolha que nos permite crescer como Homens e Mulheres, servir e dar mais de nós aos outros e caminhar de forma a alcançar as Boas-Aventuranças e o ideal de Homem-Novo.

Fábio Santos
Chefe do Agrupamento de Escuteiros 337 de Caldas da Rainha
paroquiacaldasdarainha@gmail.com
Artigo de opinião publicado na Gazeta das Caldas na edição nº5215
Sexta-feira, 02 de Março de 2018
Ligação: https://gazetacaldas.com/opiniao/catolicos-do-oeste-2/