CATÓLICOS do OESTE | Nossa Senhora do Pópulo II

catolicos-do-oeste-e1480525558952Na última edição sobre o quadro de Nossa Senhora do Pópulo, convidei-vos a irem ao Museu do Hospital conhecerem este tesouro caldense. Espero que se tenham deixado seduzir.
A arte sacra como expressão do divino é transversal à história da Igreja, nela repousa um depósito de Fé e de Verdade. Ela é espaço comunicante de Deus.
Houve tempos em que as pinturas, os vitrais, os azulejos foram chamadas de Bíblia dos pobres, como via de catequese para os que não sabiam ler. Deste modo o conhecimento de Deus acompanhado da pregação evangélica tornava-se mais compreensível.
Os artistas inspirados são os guardiões da Beleza. Na ponta de cada pincel, de cada cinzel, está uma ponte, um fluxo de Aliança entre Deus e a Humanidade.
O estudo de qualquer obra sacra implica sempre dois momentos muito importantes: o silêncio e a oração. A arte não reproduz o que vemos, ela faz-nos ver com os olhos da alma. No silêncio da oração Deus faz-Se ouvir no nosso coração.
Na arte sacra celebramos Cristo e não o artista, que se torna apenas instrumento para nos dilatar o coração ao Mistério de Deus, ao procurar criar um esboço da Beleza original, para que possamos quase sentir ou quase tocar o Sublime, sem esquecer que a arte é apenas uma representação. O objectivo da arte cristã é reunir-nos em torno do mais Belo dos homens, Jesus. Por isso o centro de cada obra é Cristo.
Olhemos para esta tela com o coração.
Este quadro é Barroco, tempo que se segue ao Renascimento. A arte barroca salienta a capacidade desta passar àqueles que a contemplam uma mensagem de fé que leve o homem a olhar o seu interior.
O Renascimento caracteriza-se pela circunferência, que coloca no centro o homem, como foco principal. Já o Barroco caracteriza-se pela elipse. Quando traçamos uma elipse temos de definir dois focos, dois pontos que se espelham para formar a imagem. Podemos caracterizar a vida do cristão como esta “elipse barroca”, não a duplicidade de vida mas a dualidade que espelha Deus na humanidade e em comunhão com ela.
Neste quadro temos dois focos de intensa espiritualidade que se completam no Amor: Maria e Jesus. Um quer precisar do outro para dar sentido às suas missões de vida.
Uma outra característica do Barroco é a técnica do “sfumato”. A tela é escura mas percebe-se uma dinâmica de acção, nos tecidos soprados numa delicada ondulação, como brisa suave do Espírito que se enuncia na escuridão que por vezes é a nossa caminhada terrena.
Outra técnica é o “a la chandelle”. Apesar da tela parecer escura, tem profundidade e um ponto de luz (por cima de Jesus) que se vai esbatendo, fazendo denotar a presença de Deus, o reconhecimento de algo que nos é superior e nos ilumina a vida.
Vemos Jesus e Maria que se tocam delicadamente sem se olharem, sem se perderem em si próprios mas em nós, Humanidade, convidando-nos à contemplação que nos leva ao encontro duma experiência de cuidar, a encontrar Deus no outro.

Margarida Varela
Catequese de Adultos
paroquiacaldasdarainha@gmail.com
Artigo de opinião publicado na Gazeta das Caldas na edição nº5243
Sexta-feira, 14 de Setembro de 2018
Fonte: https://gazetacaldas.com/opiniao/nossa-senhora-do-populo-ii/