CATÓLICOS do OESTE | Quarentena

catolicos-do-oeste-e1480525558952A Igreja vive todos os anos um tempo de purificação espiritual – a Quaresma. São quarenta dias vividos como uma oferta providencial para aprofundarmos o sentido e o valor do nosso ser cristão, que nos estimula a redescobrir a misericórdia de Deus, a fim de nos tornarmos mais misericordiosos com os irmãos.

Durante a Quaresma, a Igreja tem o cuidado de propor alguns compromissos específicos que ajudem os fiéis neste processo de renovação interior: tais são a oração, o jejum e a esmola. Será interessante analisar a palavra “Quaresma”, que tem por base “Quarenta”, que deu origem à expressão “Quarentena”. Palavra ultimamente tão ouvida nos “media” a propósito dum vírus pandémico. De repente, quase sem darmos conta, o mundo inteiro fala duma ética universal que tem por base um mandamento da Lei de Deus, já desde o Antigo Testamento. Senão vejamos, alguns exemplos, contidos na Sagrada Escritura, que nos permitem olhar para o número 40 como um tempo de purificação, de depuração de algo que precisa ser curado, um tempo de libertação da doença que nos destrói a vida:

1. No Livro do Génesis, Deus fez chover por 40 dias e 40 noites para purificar a Terra, salvando Noé e a sua família. 2. No Êxodo, o Povo de Israel caminhou durante 40 anos, purificando-se dos ídolos do Egipto, no deserto até entrar na Terra Prometida. 3. O Profeta Elias passou 40 dias e 40 noites caminhando para o Monte Horeb ao encontro do Senhor. 4. Jonas profetizou 40 dias de julgamento para que Nínive se arrependesse dos seus males. 5. Jesus jejuou durante 40 dias no deserto, onde foi tentado pelo demónio, provando que o Amor de Deus vence todos os males e que é Ele que nos dá a verdadeira Vida.

Tendo por base esta simbologia a Igreja institui a Liturgia da Quaresma, no séc. IV, como o grande período de penitência e purificação individual que aproveita a toda a Igreja e ao Mundo, partindo do convite à oração, ao jejum e à esmola.

A esmola evangélica não é uma simples filantropia, trata-se duma expressão concreta da caridade, virtude teologal que exige a conversão interior ao amor de Deus e dos irmãos, à imitação de Jesus, que, ao morrer na Cruz, se deu totalmente por nós. A esmola é uma coisa muito séria, de pouco serve dar os bens aos outros, se o coração se ensoberbece com isso. Há que não procurar um reconhecimento humano para as obras de misericórdia, pois Deus “vê no
segredo” e no segredo recompensará.

Fazendo um exercício de fé podemos ver que as Caldas da Rainha é o resultado de muitos gestos de verdadeira misericórdia, de uns, que a muitos, no traçado dos tempos, tem aproveitado. Como é o caso da nossa Ermida de São Sebastião, ao cimo da Praça da Fruta, e que quase não damos por ela.

A sua origem remonta à fundação das Caldas. Rezada e financiada pela Rainha Dona Leonor, teve, desde sempre, como patrono S. Sebastião, protector da fome, das pestes e das doenças. No dia dedicado ao Santo, saíam carros com bolos e pão para distribuir pelos pobres. Um sentido de partilha e de misericórdia, pelos mais carenciados, que gerou raízes de amor e foi protegendo a nossa cidade no silêncio da oração, da abstinência e da esmola de Leonor, que
Deus aproveitou e que todos têm beneficiado.

A Quaresma é um caminho de descoberta. Vale a pena fazer esse caminho, nele encontramo-nos e encontramos toda a humanidade para descobrirmos Deus, que vem ao nosso encontro de braços abertos.

Margarida Varela
Catequese de Adultos
paroquiacaldasdarainha@gmail.com
Artigo de opinião publicado na Gazeta das Caldas na edição nº 5320
Sexta-feira, 06 de Março de 2020
Fonte: https://gazetacaldas.com/opiniao/catolicos-do-oeste/